segunda-feira, 10 de janeiro de 2011

Por que brasileiros lêem tão pouco?

Essa pergunta nos tem atormentado a todos, de professores a autores, de editoras a livrarias. E a resposta, longe de simples, é das mais assustadoras. Na Revista Superinteressante deste mês (ed 284) Raphael Soeiro nos traz algumas dicas importantes. A matéria, muito pertinente, ganhou apenas meia página e nem foi citada na capa, mas pelo menos estava lá.


Segundo Raphael, a Unesco, divisão da ONU que trata destes assuntos de educação e cultura, só há leitura onde ler é uma tradição nacional (#fail), o hábito de ler vem de casa (double #fail) e onde são formados novos leitores (triple #fail). Como vocês devem ter percebido, estamos praticamente na contra-mão disso. Uma das melhores frases do artigo de Raphael constata que fomos "do analfabetismo à tv sem passar pela biblioteca".


Como sempre alguém relembra nos maravilhosos encontros Novas Letras (o próximo é dia 4, Saraiva do Shopping Ibirapuera, 18h30, em SP), a escola tem boa parte da culpa. Zoara Failla, do Instituto Pró-Livro, reforça o coro, dizendo que os livros clássicos do século 19 são maravilhosos, mas não adequados pra idade dos alunos. Segundo ela, achando as obras chatas, o adolescente não retorna à leitura depois que sai do colégio. Raphael acrescenta que nos países anglo-saxões (Estados Unidos e Reino Unido, por exemplo), os clássicos são mais próximos dos anos 50 e 60, e há menos livros, que são analisados a fundo. A solução deve vir daí, mas isso implica em mudar o vestibular, e nesse ponto, o ENEM poderia ajudar.


Eu, claro, defendo que devemos mesclar clássicos e livros contemporâneos, e claro, a participação dos pais é fundamental, e mesmo que não sejam leitores assíduos, estimulem seus filhos. Uma nação se faz de homens e livros, como diria Lobato, e no nosso caso, andam faltando ambos exemplos, de retidão e de leitura.


Como vocês sabem, ou pelo menos desconfiam, embora sejamos a 8a economia do mundo, somos um país essencialmente subdesenvolvido. Educação não é o nosso forte, e mesmo a tão aclamada nova classe média, em geral, sofre o problema do aumento de renda sem necessariamente o aumento do nível de cultura e educação, o que claro, minimiza o impacto dessa classe no mercado editorial.


Para comparar o quanto lemos e o quanto poderíamos ler, darei o exemplo mostrado na reportagem da Super. Os dados são interessantíssimos. Comparando Brasil, Chile, Argentina e Uruguai. Alguns itens que contam pra explicar o que anda acontecendo por aqui:


TAXA DE ANALFABETISMO
Brasil = 15%
Chile = 4%
Argentina = 3%
Uruguai = 2%


PREÇO MÉDIO DO LIVRO
Brasil= R$40
Chile = R$25
Argentina = R$30
Uruguai = R$25


LIVRARIAS POR 100MIL HABITANTES
Brasil= 1,25
Chile =3,33
Argentina=2,5
Uruguai=3,33


LIVROS LIDOS ESPONTANEAMENTE POR HABITANTE, POR ANO
Brasil=1
Chile=5
Argentina=5
Uruguai=6


Bom, os número falam por si mesmos. Mas vamos analisá-los resumidamente. Nossa taxa de analfabetismo já seria ridícula se fosse verdadeira, mas a verdade, como vocês sabem, é que ela é mascarada: quem assina já é considerado alfabetizado. Então, quando falamos em alfabetizados de verdade, os dados são bem mais alarmantes, e acho pouco provável que metade dos brasileiros leia regularmente, será que estou tão errado assim? Bom, é que nem a história dos biscoitos fresquinhos porque vendem mais. Quem lê mais, lê e escreve melhor; e quem lê e escreve melhor, lê mais. Então, falta bastante, né, comecemos, pois!


Uma discussão que sempre volta aos nossos círculos na blogsfera é a questão do preço do livro. E como a matéria mostra, nós pagamos quase o dobro do que os chilenos e o os uruguaios pagam. Bom, quanto mais livros são vendidos, mais barato pode-se cobrar neles (ganho de escala), mas o Brasil não é dado a ganho de escala, gosta de dinheiro fácil. Então, não é incomum um livro poder ser vendido a 30 reais e custar 30% mais. O sistema atual, em que livrarias ficam com 50% a 60% do preço de capa do livro, definitivamente não ajuda editoras e autores, mais muito mais impacto causa nos pobres dos leitores.


Quando pensamos em livrarias perto de todo mundo, mais uma vez o Brasil tem um desempenho pífio. Você já deve ter ouvido dizer que o Buenos Aires tem mais livrarias que o Brasil todo. Provavelmente não é verdade, mas que em média os argentinos tem o dobro de chance de encontrar uma livraria no seu bairro, isso sim é. Quando somos comparados a Chile e Uruguai, a proporção é ainda mais embaraçosa, pois ambos países têm quase três vezes mais livrarias que nós, proporcionalmente. O Brasil sofre muito com essa carência, as grandes redes estão em grandes cidades, onde, como acontece no Brasil, a população enorme mascara o problema do analfabetismo crônico - há muitos analfabetos, mas também há muitos leitores. Livrarias pequenas, num país que lê pouco, se seguram pra não fechar. E aparentemente as coisas não mudarão tão rápido assim.


Agora, dentre todos os índices, o mais vergonhoso é o de leituras espontâneas por habitante, por ano. Sim, vocês lêem mais que isso, eu também. Conheço gente que lê 40 livros no ano, eu dificilmente passo de 10, mas como escrevo, em média, um livro a cada ano e meio, sou café com leite. O governo tenta mascarar o problema, incluindo livros para-didáticos e didáticos na conta, mas a realidade do mercado editorial é bem mais sombria: o Brasil tem, de leitura espontânea, por vontade própria, apenas 1 livro por habitante, por ano. Isso dá 190 milhões de livros, aproximadamente. No pequeno e esguio Chile, são cinco vezes mais. Logo, multiplicando-se a população do Chile por seus livros lidos espontaneamente, temos um mercado de 80milhões de títulos, quase metade do mercado brasileiro. No Uruguai, somos execrados em 6/1, mas é na combalida Argentina que temos, fazendo a mesma conta, um mercado de literatura realmente forte: com 40 milhões de habitantes lendo em média 5 livros por ano, o mercado argentino é de nada menos que 200 milhões de títulos anuais. Ou seja, a Argentina toda, com uma população menor que a de São Paulo, tem um mercado maior que o do Brasil inteiro! Hello!


Espero que este post tenha feito você refletir. Você, leitor, tenha percebido o quanto você é importante e a diferença que faz no país. Tente trazer mais gente pro seu lado. Você, autor, perceba o longo caminho que temos pela frente, vamos produzir boa literatura! Vocês, editores e livreiros, vejam duas coisas nesse post: pensem em ideias para estimular o mercado, seja no preço dos livros, seja em eventos, seja em iniciativas junto às escolas. E claro, como tudo isso custa dinheiro, percebam que mais do que importar, está na hora de exportarmos literatura. E Chile, Argentina e Uruguai esperam ansiosamente por isso.


fonte: Enderson Rafael Blog

2 comentários:

  1. Oi meu nome eh pamela e gostaria de saber se vc pode divulgar meu blog no Scarlet www.detiquetta.blogspot.com espero que gostem beijos ate mais.

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  2. Bom, no Skarlet eu tenho que ver ainda com a Nati, mas eu adorei seu blog e ele já esta na minha listinha de links ali do lado! Bjos, Ju

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